Chaval é uma cidade de clima quente e úmido, com população de 12 mil habitantes, situada no extremo Noroeste do Ceará, bem na divisa com o Piauí. Os dois estados são separados pelo Rio Ubatuba, onde acontecem as tradicionais regatas de canoas. É ali que fica o ponto turístico mais visitado da cidade: o Porto do Mosquito, e sua piscina natural. O panorama pode ser observado de várias pedras: as da Carnaúba, da Santa, do Letreiro e da Gruta. O município possui apenas um distrito: Passagem do Vaz.
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Na entrada de Chaval, uma homenagem ao padroeiro da cidade: Santo Antônio
O encarregado Manoel Cícero Silva da Mota, 34 anos, nasceu lá. “Pelo nome, ninguém vai conhecer. Melhor colocar o meu apelido: Brinquinho” – ele recomenda. Pronto, e agora todos já sabem de quem estamos falando. O apelido ficou e é assim que até os vizinhos da Gardênia Azul, onde reside com a esposa e duas filhas, o chamam. Vem do tempo em que começou a trabalhar na construção civil. Usava cabelos longos e três brincos em cada orelha.
Depois que as responsabilidades cresceram, os cabelos encurtaram e os brincos diminuíram bastante: “De vez em quando ainda uso um. Mas, só um.”
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Manoel Cícero não usa mais cabelos longos, nem enfeita as orelhas. Mas o eplido ficou: Brinquinho
Morte e vida severina
Quando ainda vivia em Chaval, Brinquinho era apenas Manoel, um lavrador como o pai, José Firme da Mota, e milhares de outros conterrâneos, cuja aspiração profissional era trabalhar nas lavouras de milho e feijão. Não conheceu nada daquela cidade descrita lá na abertura do texto, pois toda a sua vida se passou na roça. Depois que perdeu duas irmãs com paralisia e os pais se separaram, veio para o Rio com a mãe, Adelaide. Moravam na Pedra de Guaratiba. Mas foi por pouco tempo. Dona Adelaide adoeceu e também morreu.
Retornando a Chaval, já adolescente, Manoel foi morar na casa dos avós, em Lagoa do Mocambo, bem no interior. Trabalhava na lavoura até às três da tarde. Depois, pegava o ônibus rural e ia estudar no Colégio Epitácio Brito de Oliveira, onde cursou até a 7ª série. Chegava em casa à meia-noite, dormia um pouquinho e se levantava às 5 para pegar no batente, novamente.
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Manoel é o encarregado da Machado Vieira na obra que está nsendo realizada na Gávea – Fotos MV / Rafael Miller
Em 2007, quando completou 18 anos, Manoel pediu à bênção ao pai e aos avós e veio para o Rio tentar melhor sorte. Durante os oito anos em que trabalhou numa empresa, com carteira assinada, saiu de servente e chegou a encarregado. Tempos depois, foi “descoberto” pelo supervisor de Obras, Sebastião Carvalho, que burilou o seu talento e abriu as portas, trazendo-o para a Machado Vieira.
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Da direita para esquerda, o zagueiro Brinquinho, capitão, técnico e presidente do RZ, da Gardênia Azul – Arquivo Pessoal
Há mais de 13 anos que Brinquinho não vai a Chaval. Tem saudades dos parentes e do milho verde, que tirava do pé para comer logo em seguida. É querido e respeitado pelos companheiros e vizinhos da Gardênia Azul também. Rubro-negro apaixonado, conta que já foi zagueiro, técnico e presidente de um clube que havia na sua comunidade, o RZ. Era, ao mesmo tempo, o xerife da zaga, o professor que traçava o plano de jogo e o cartola que brigava pelos interesses do clube. Brinquinho era carne de pescoço.
– Mas, com a pandemia, paramos de jogar. Perdemos o contato, cada um foi buscar outra coisa para fazer… – lamenta.
Ficou apenas uma certeza na mente e no coração desde cearense valente:
– Vou continuar me esforçando ao máximo para dar às minhas filhas uma vida que não tive. Se Deus quiser!
Assim seja, campeão!
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O pontinho vermelho representa a cidade de Chaval, no alto, à esquerda, na divisa com o Piauí. Um brinquinho no mapa do Ceará – Wikipédia
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