Preocupação com o meio ambiente muda conceitos da Engenharia na universidade e avança em países como Japão, Suécia e Estados Unidos
Alunos da Escola Politécnica da UFRJ, no Fundão, estão, há quatro períodos, se familiarizando com um novo conceito na Engenharia Civil: o da construção modular. Trata-se de uma nova forma de produzir edificações, onde as operações são deslocadas para ambientes fabris (off-site) orientados à produção de componentes, painéis e, até mesmo, módulos volumétricos (sistema 3D) que serão, então, montados no local de destino.
Através desse processo podem ser construídos prédios residenciais e comerciais, habitações populares e casas de luxo. Detalhe principal: este conceito está em sintonia com as demandas ambientais de todo o planeta, possibilitando a substituição de materiais tradicionais não-renováveis (concreto, ferro, compensados etc.) por materiais renováveis como, por exemplo, a madeira engenheirada – que passa por processos de engenharia e são pré-fabricadas, com o objetivo de potencializar o seu uso na construção.
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Na Suécia, as construções modulares de madeira têm evoluído bastante. No alto, o professor Luís Otávio – Fotos MV/ Rafael Miller e Reprodução
Já não é mais uma utopia
Quem conta a “novidade” é o engenheiro Luís Otávio Cocito de Araújo, 49 anos, professor Associado do Departamento de Engenharia Civil da UFRJ. Explica que se trata de um processo de construção que remonta meados do século passado, com destaque para o Japão a partir dos anos 1960, e que vem se aperfeiçoando nas últimas décadas. Em busca de uma resposta para o aumento da produtividade, a construção modular vem crescendo rapidamente nos EUA. Nos últimos quatro anos, saltou de 2% para 4% e deve alcançar os 10% do mercado de edificações dentro dos próximos cinco anos.
Segundo ele, no Brasil, essa possibilidade já deixou de ser uma utopia. Conta que, há aproximadamente 10 anos, um grupo de jovens paranaenses, criou uma empresa de construção modular que utiliza a madeira extraída de florestas plantadas como matéria prima em sistemas de construção modular painelizada (painéis de fechamento, piso e cobertura, por exemplo).
“Embora sejam iniciativas isoladas, tem-se percebido uma rápida expansão de empresas que oferecem no mercado brasileiro sistemas modulares de construção. Ainda que se leve um tempo para alcançarmos a maturidade de países como Japão, Suécia, Reino Unido e, mais recentemente, Estados Unidos, o fato é que já ingressamos neste trem”, é o que o professor tem dito aos 200 alunos que já fizeram ou estão estudando a matéria.
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A flofresta de mogno africano em Rancharia, SP, ainda precisará se desenvolver por mais 20 anos – Acervio Pessoal
Contras ainda vencem
Entre prós e contras ao avanço da construção modular em nosso País, os contras ainda vencem. Para que o processo ganhe alguma consistência no mercado, é necessário que tenha apoio governamental, regulamentação própria, tecnologia e mão de obra especializadas, custos compatíveis, investidores com fôlego e garantia de sucesso. Combinações que dependem de um mapa astral amplamente favorável.
Luís Otávio é um idealista: “Era apenas um sonho, mas as coisas já começaram a acontecer” – diz ele, referindo-se à experiência positiva dos jovens paranaenses. Revela que a sua paixão, em especial, por madeira, aconteceu acidentalmente. Ao encomendar armários embutidos para o seu apartamento, foi ludibriado por um falso marceneiro, que recebeu a entrada e fugiu. O estelionatário nunca mais apareceu.
O professor não esmoreceu. Resolveu aprender marcenaria para ele mesmo construir os móveis. Pouco depois, em sociedade com os irmãos, no sítio dos pais em Rancharia, cidade do interior paulista situada a 520 km da capital, plantaram uma pequena floresta com 10 mil pés de mogno africano, árvore exótica, não-nativa. Dentro de 20 anos, esta madeira poderá ser utilizada em diversas finalidades ecologicamente corretas. Entre elas, a construção modular em consonância com a madera engenheirada. Quem sabe?